O
trabalho de Jacob
Jacob Rheingantz viu realizado o seu sonho dourado, com a chegada dos
primeiros colonos, 88 pessoas embarcadas no “Twee Vrieden”, em Hamburgo, a 31/10/1857.
A colônia iniciou com
grande pobreza, devido à falta de recursos. Consta que apenas existiam as casas de Antonio Francisco de Abreu e de José Antonio de Olivieira
Guimarães, sendo as demais vivendas, pequenos
e acanhados ranchos. Não foi possível completar a colonização em cinco anos,
face à precariedade das instalações e outros motivos de ordem material,
resolvendo então o governo conceder um auxílio por pessoa autorizando, ainda, a
construção de estradas na zona colonizada, mas que não constituía um favor e,
sim, estímulo e apoio moral a Jacob Rheingantz.
São Lourenço desenvolveu-se,
crescendo e prosperando até atingir sua autonomia sob a forma de município,
única e exclusivamente sob a administração privada sem necessidade de ser
encampada pelo governo.
A grande casa construída por Jacob Rheingantz para sua família (figura do livro de V.Coaracy) |
Reuniões entre os colonos e o
fundador, em sua grande casa, marcaram o progresso do empreendimento que, como
é natural, enfrentou vários problemas e crises. Numa delas, em 24 de agosto de
1862, resolveram que seriam eleitos “inspetores” para zelar pelo bem geral e
pela ordem, um para cada Picada; foram eleitos 6 inspetores, sendo eles: George
Born (do distrito do arroio de S.Lourenço até o arroio Cachoeira), Bernardo
Schneider (do arroio Cachoeira na Picada dos Moinhos até a Roça), João Dietrich
2º (da Roça até o arroio Bom Jesus, inclusive a Picada das Antas), Fernando
Nickel (do arroio Bom Jesus à Picada Bom Jesus), João Becker (desde a Roça e
Picada da Boa Vista até Felix Soares) e Carlos Ritter (para a Picada dos
Quevedos). Os eleitos, aceitando, estabeleceram uma “Carta de Deveres”(Coaracy,
1957, p.71), tanto para os inspetores como para os colonos. Ainda neste mês,
foi firmado o compromisso dos colonos em contribuir para a construção de uma
escola, assim como para o pagamento aos professores, comprometendo-se Jacob de
comprar as telhas doando, também, o respectivo terreno, ao final tendo sido
lavrado documento em alemão (Coaracy, 1957, p. 77). Em 1863 surgiu a primeira
escola, em Picada
Moinhos , chegando a 16 no ano de 1877.
A solução das escolas particulares
não era totalmente satisfatória, pois o ensino apresentava deficiências
inevitáveis. As condições rústicas de moradia numa Colônia não tentariam
professores afeitos ao conforto urbano, a menos que lhes fosse oferecida uma
boa remuneração, o que era inviável, ocupando o lugar dos mestres alguns dos
colonos, nem sempre dotados de suficiente instrução. Consciente disso, em todos
os relatórios anuais que o Diretor da Colônia enviava ao Governo da Província,
insistia sobre a necessidade de dotar a Colônia de escolas públicas que se enquadrassem
no sistema de instrução brasileiro.
Em relação ao culto religioso,
deveria ser considerado que a maioria dos colonos era protestante, divididos
entre várias denominações evangélicas, existindo ainda uma parcela considerável
de católicos. Não querendo tomar qualquer iniciativa, Jacob preferiu deixar que
os próprios colonos resolvessem, por acordo entre si, o problema, o que não
ocorreu. No ano seguinte, numa proposta do Diretor datada de 30 de novembro de
1865, este doaria para cada religião 6.000 braças quadradas de terra na entrada
da Picada Boa Vista, canto da Picada dos Moinhos, à direita para uma e à
esquerda para outra religião, devendo ser vendido pelo melhor preço aquele
terreno que já havia sido por ele doado a esta causa.
Passava a colônia por um período
turbulento, Jacob e família sentindo-se ameaçados. Com a “aposentadoria” dos
chamados COLONOS INSPETORES em virtude do envio pelo governo provincial de um
destacamento policial comandado pelo tenente Francisco de Sá Queirós (não
entendia alemão), destacamento mal recebido por desagrado geral. Um edital
publicado em 25 de novembro de 1867, assinado por Sá Queirós, gerou um clima de
inconformidade entre os colonos. Tal “edital”, resumido, determinava a
proibição de armas pelo moradores da colônia, dizia que os falecimentos teriam
de ser comunicados sem demora pelos familiares, e que os enterros sòmente
seriam realizados após a apresentação do respectivo atestado de óbito firmado
por médico; ditava que a realização de bailes públicos ou particulares só
ocorreriam com sua prévia licença e, sob pena de prisão, proibia ajuntamento
com mais de 3 pessoas e jogos nas vendas.
O clima gerado pelo documento causou
grande inconformidade entre os colonos, trazendo à tona várias queixas contra
Jacob Rheingantz. Um grupo de aproximadamente 200 invadiu o Quartel do
destacamento, desarmando seus policiais e apoderando-se de suas armas indo,
após, até a residência da família Rheingantz, invadindo-a e destruindo suas
dependências e mobiliário. Exigindo que Jacob assinasse documentos declarando
ter entregue “dinheiros recebidos”, e dar quitação de outras importâncias, sob
coação fizeram o Ten.Queirós assinar
como testemunha da extosão. Abandonando a Colônia, o “fundador” foi para Rio
Grande, relatando o ocorrido ao Governo Provincial. Em janeiro de 1868 foi
enviada uma força policial de 68 praças, comandados pelo Barão de Kahlden
(diretor da Colônia de Santo Ângelo) e o Chefe de Polícia da Província, para
restabelecer a ordem e, prendendo os 5 cabeças do motim, removeu-os para
Pelotas onde foram processados. Ao fim de alguns meses, o Barão de Kahlden
conseguiu restaurar as antigas condições de harmonia e trabalho, e Jacob
retornou à Colônia reassumindo sua direção.
Muito mais dispendeu
Jacob com seus agentes na Europa, e a subvenção fora paga para apenas 1440
colonos, na época já com alguns milhares estabelecidos. Foi uma obra de grande
sacrifício, mas de extraordinária relevância para o desenvolvimento do país,
obtendo o serviço prestado por Jacob Rheingantz maior mérito por se tratar de
uma colônia isolada, onde todas as iniciativas eram cercadas das maiores
dificuldades, merecendo reverencias e tributos de gratidão à sua memória, vindo
do Barão de Lucena, então Ministro da Agricultura, o pensamento
“A Colonia de São Lourenço é uma maravilha, e Jacob Rheingantz um
benemérito”.
Esta postagem
baseia-se no livro a ser brevemente editado, deste bloguista, intitulado
"Dr.OSCAR".