sábado, 16 de novembro de 2013

CIA.UNIÃO FABRIL - TECELAGEM RHEINGANTZ

As instalações industriais

Os edifícios e escritórios que abrigaram a Companhia União Fabril situavam-se, desde a fundação até seu encerramento, na Avenida Rheingantz nº 201, na cidade de Rio Grande-RS, ainda hoje podendo ser visitadas, embora quase em ruínas. As oficinas eram instaladas em pavilhões isolados, paralelos uns aos outros, muito bem arejados, e os que foram construídos mais tarde dispunham de cobertura “shed”, com ótima iluminação natural. Alem de ambiente com calor e umidade controlados, por motivos técnicos impostos pela natureza do trabalho, as salas onde o serviço não exigia contínua movimentação dos operários dispunham de sistema de calefação. A área total pertencente à emprêsa era de 155 mil m², com área industrial coberta de 45 mil m². O acesso à fábrica era feito pelo portão central, situado embaixo e ao lado dos escritórios, por onde entrava a matéria-prima em caminhões e saiam os produtos acabados após cuidadosa elaboração por competentes empregados que, juntamente com os administrativos, somavam 1200 pessoas num parque de máquinas da mais moderna fabricação, algumas delas até hoje em condições de funcionamento, podendo produzir com alta qualidade.


A principal matéria-prima utilizada era a lã nacional, proveniente das estâncias gaúchas, adquirida diretamente dos estancieiros ou das cooperativas e barracas. A lã das estâncias vinha acondicionada em bolsas contendo os velos de cada ovelha amarrados em separado; a das cooperativas e barracas já vinha classificada e separada. Havia grande estocagem de matéria-prima por se tratar de produção sazonal, com grande imobilização de capital, chegando a 2 mil toneladas de produto por temporada.



Muito embora as Indústrias Rheingantz rivessem se estabelecido no extremo sul do país, sua criação ocorreu em fase tão precoce que é impossível ignorá-las devido ao seu pioneirismo... Ainda que Pelotas oferecesse maiores recursos financeiros, a cidade de Rio Grande foi excolhida para sediar essas indústrias por ser o único porto marítimo do estado, pelo qual passava toda a importação e exportação. (Günter Weimer, apresentação da obra UMA VILA OPERÁRIA EM RIO GRANDE, de Vivian da Silva Paulitsch, 2008)

No Rio Grande do Sul, as situações de desenvolvimento determinadas pelo encilhamento e, mais tarde, pela reforma aduaneira, durante o governo de Campos Sales, contribuíram para o surgimento de indústrias e para a expansão do setor têxtil. Assim, excetuando a Cia.União Fabril, todas as outras fábricas de tecidos do Estado se instalaram no período republicano.
A Cia.União Fabril (ex Rheingantz & Vater) foi fundada em 1874, em Rio Grande; a Cia.Fiação e Tecidos Porto-Alegrense, em 1891, em Porto Alegre; Santos Bocchi e Cia., Cia. de Tecelagem Ítalo-Brasileira em 1906, em Rio Grande;Cia.de Fiação e Tecidos Pelotense S/A, em 1908, em Pelotas; e a Cia.de Tecidos de Lã, em 1909, em Caxias do Sul. (Günter Weimer, apresentação da obra UMA VILA OPERÁRIA EM RIO GRANDE, de Vivian da Silva Paulitsch, 2008)

As pradarias do Sul e os campos ricos da fronteira, povoados por rebanhos diversos, entre os quais se destacam os de gado ovino, com raças lanígeras apuradas que forneceram as fibras àquela próspera e ativa indústria têxtil, cujos panos e artefatos conquistaram renome e dominaram o mercado consumidor, têm sua história econômica ligada ao nome de um dos mais ilustres rio-grandenses, o Comendador Carlos Guilherme Rheingantz, cujas iniciativas, no campo industrial, pastoril e agrícola, representam a semente que, lançada em fins do século XIX, frutificou nos dias atuais através das grandes realizações de uma população inteira dedicada ao trabalho produtivo do pastoreio, agricultura e indústria. (Revista Paulista de Indústria, dezembro de 1955, nº 41 – separata)

As indústrias mais sofisticadas, como a tecelagem e de chapéus, requeria maquinaria sofisticada, amplos pavilhões fabris, rígido controle do operariado e uma disciplina férrea, que era contrabalançada com uma assistência direta aos empregtados, na forma de concessão de moradia, de escola para os filhos dos empregados, na constituição de clubes para os empregados mais graduados (Günter Weimer, apresentação da obra UMA VILA OPERÁRIA EM RIO GRANDE, de Vivian da Silva Paulitsch, 2008)


...sua Vila Operária com casas enfileiradas, isoladas para mestres, técnicos, um Grupo Escolar, Jardim de Infância, Cassino dos Mestres, Ambulatório Médico e Armazém Cooperativo. As casas feitas para os operários desde 1884 são edifícios que estão presentes, ainda hoje, na composição da paisagem urbana. Sendo assim, fazem parte de uma cultura arquitetônica daquele tempo e pode-se claramente observar que os construtores, dos quais não temos informações atualmente, conheciam estes modelos internacionais - pois existe um ambicioso desenho dentro do contexto deste conjunto de habitações. Tais construções evocam exemplos europeus na busca de uma modernização dentro da cultura internacional que estava disponível, inclusive, em periódicos e manuais. A análise da produção arquitetônica desta Vila Operária, foi feita através de uma comparação de imagens de modelos internacionais e nacionais com a produção arquitetônica obtida. Busca-se conhecer a culta visual dos construtores daquela época e o diálogo que eles estabeleceram com as obras de referência, até mesmo anteriores à sua época. Para tanto, fez-se necessário um estudo das vilas operárias têxteis que foram contemporâneas em São Paulo na segunda metade do século XIX, devido à cultura do café. Tais semelhanças proporcionaram uma maior compreensão deste tema e contribuíram para o álbum de imagens e tipologias dessas construções; haja visto que, bairros mais antigos da cidade de São Paulo como Bom Retiro, Brás, Moóca, Belém, Belenzinho, Lapa e Ipiranga estão repletos de vilas construídas junto às fábricas. Através desta busca de comparações, pôde-se ampliar as obras em referência a que se transporta este estudo de caso. (segundo  Vivian da Silva Palulitsch, em seu trabalho de tese na Unicamp com o título “RHEINGANTZ: UMA VILA OPERÁRIA EM RIO GRANDE-RS)

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