As instalações industriais
Os edifícios e escritórios que abrigaram a Companhia União
Fabril situavam-se, desde a fundação até seu encerramento, na Avenida
Rheingantz nº 201, na cidade de Rio Grande-RS, ainda hoje podendo ser
visitadas, embora quase em
ruínas. As oficinas eram instaladas em pavilhões isolados,
paralelos uns aos outros, muito bem arejados, e os que foram construídos mais
tarde dispunham de cobertura “shed”, com ótima iluminação natural. Alem de
ambiente com calor e umidade controlados, por motivos técnicos impostos pela
natureza do trabalho, as salas onde o serviço não exigia contínua movimentação
dos operários dispunham de sistema de calefação. A área total pertencente à
emprêsa era de 155 mil m², com área industrial coberta de 45 mil m². O acesso à
fábrica era feito pelo portão central, situado embaixo e ao lado dos escritórios,
por onde entrava a matéria-prima em caminhões e saiam os produtos acabados após
cuidadosa elaboração por competentes empregados que, juntamente com os
administrativos, somavam 1200 pessoas num parque de máquinas da mais moderna
fabricação, algumas delas até hoje em condições de funcionamento, podendo
produzir com alta qualidade.
A
principal matéria-prima utilizada era a lã nacional, proveniente das estâncias
gaúchas, adquirida diretamente dos estancieiros ou das cooperativas e barracas.
A lã das estâncias vinha acondicionada em bolsas contendo os velos de cada
ovelha amarrados em separado; a das cooperativas e barracas já vinha
classificada e separada. Havia grande estocagem de matéria-prima por se tratar
de produção sazonal, com grande imobilização de capital, chegando a 2 mil
toneladas de produto por temporada.
Muito embora as Indústrias Rheingantz
rivessem se estabelecido no extremo sul do país, sua criação ocorreu em fase
tão precoce que é impossível ignorá-las devido ao seu pioneirismo... Ainda que
Pelotas oferecesse maiores recursos financeiros, a cidade de Rio Grande foi
excolhida para sediar essas indústrias por ser o único porto marítimo do
estado, pelo qual passava toda a importação e exportação. (Günter Weimer,
apresentação da obra UMA VILA OPERÁRIA EM RIO GRANDE, de Vivian da Silva
Paulitsch, 2008)
No Rio Grande do Sul, as
situações de desenvolvimento determinadas pelo encilhamento e, mais tarde, pela
reforma aduaneira, durante o governo de Campos Sales, contribuíram para o surgimento
de indústrias e para a expansão do setor têxtil. Assim, excetuando a Cia.União
Fabril, todas as outras fábricas de tecidos do Estado se instalaram no período
republicano.
A Cia.União Fabril (ex Rheingantz
& Vater) foi fundada em 1874, em Rio Grande; a Cia.Fiação e Tecidos
Porto-Alegrense, em 1891, em Porto Alegre; Santos Bocchi e Cia., Cia. de
Tecelagem Ítalo-Brasileira em 1906, em Rio Grande;Cia.de Fiação e Tecidos
Pelotense S/A, em 1908, em Pelotas; e a Cia.de Tecidos de Lã, em 1909, em
Caxias do Sul. (Günter
Weimer, apresentação da obra UMA VILA OPERÁRIA EM RIO GRANDE, de Vivian da
Silva Paulitsch, 2008)
As pradarias do
Sul e os campos ricos da fronteira, povoados por rebanhos diversos, entre os
quais se destacam os de gado ovino, com raças lanígeras apuradas que forneceram
as fibras àquela próspera e ativa indústria têxtil, cujos panos e artefatos
conquistaram renome e dominaram o mercado consumidor, têm sua história
econômica ligada ao nome de um dos mais ilustres rio-grandenses, o Comendador
Carlos Guilherme Rheingantz, cujas iniciativas, no campo industrial, pastoril e
agrícola, representam a semente que, lançada em fins do século XIX, frutificou
nos dias atuais através das grandes realizações de uma população inteira
dedicada ao trabalho produtivo do pastoreio, agricultura e indústria. (Revista
Paulista de Indústria, dezembro de 1955, nº 41 – separata)
As indústrias mais sofisticadas, como a
tecelagem e de chapéus, requeria maquinaria sofisticada, amplos pavilhões
fabris, rígido controle do operariado e uma disciplina férrea, que era
contrabalançada com uma assistência direta aos empregtados, na forma de
concessão de moradia, de escola para os filhos dos empregados, na constituição
de clubes para os empregados mais graduados (Günter Weimer, apresentação da
obra UMA VILA OPERÁRIA EM RIO GRANDE, de Vivian da Silva Paulitsch, 2008)
...sua Vila Operária
com casas enfileiradas, isoladas para mestres, técnicos, um Grupo Escolar,
Jardim de Infância, Cassino dos Mestres, Ambulatório Médico e Armazém
Cooperativo. As casas feitas para os operários desde 1884 são edifícios que
estão presentes, ainda hoje, na composição da paisagem urbana. Sendo assim,
fazem parte de uma cultura arquitetônica daquele tempo e pode-se claramente
observar que os construtores, dos quais não temos informações atualmente,
conheciam estes modelos internacionais - pois existe um ambicioso desenho
dentro do contexto deste conjunto de habitações. Tais construções evocam
exemplos europeus na busca de uma modernização dentro da cultura internacional
que estava disponível, inclusive, em periódicos e manuais. A análise da
produção arquitetônica desta Vila Operária, foi feita através de uma comparação
de imagens de modelos internacionais e nacionais com a produção arquitetônica
obtida. Busca-se conhecer a culta visual dos construtores daquela época e o
diálogo que eles estabeleceram com as obras de referência, até mesmo anteriores
à sua época. Para tanto, fez-se necessário um estudo das vilas operárias
têxteis que foram contemporâneas em São Paulo na segunda metade do século XIX, devido
à cultura do café. Tais semelhanças proporcionaram uma maior compreensão deste
tema e contribuíram para o álbum de imagens e tipologias dessas construções;
haja visto que, bairros mais antigos da cidade de São Paulo como Bom Retiro,
Brás, Moóca, Belém, Belenzinho, Lapa e Ipiranga estão repletos de vilas
construídas junto às fábricas. Através desta busca de comparações, pôde-se
ampliar as obras em referência a que se transporta este estudo de caso. (segundo Vivian da
Silva Palulitsch, em seu trabalho de tese na Unicamp com o título “RHEINGANTZ:
UMA VILA OPERÁRIA EM RIO GRANDE-RS)
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