Antes
da colonização
O pioneiro-residente na ocupação das
terras que hoje compõem o município de São Lourenço do Sul foi o açoriano
Capitão de Dragões José Cardoso de Gusmão, a quem o rei português, por carta
régia, concedeu uma sesmaria em 1786. Tratando de estabelecer-se imediatamente
nessas terras, Gusmão passou a montar estâncias, iniciando a exploração
agro-pastoril. Rafael Pinto Bandeira desde 1776 já possuía uma faixa de terras
na costa da Lagoa dos Patos, porem nunca fixando residência nelas.
Com outras sesmarias doadas pela
coroa portuguesa, novos proprietários de terras foram surgindo, predominando no
início do século XIX os grandes latifúndios, com exploração pecuária e baixa
densidade populacional (formada por peões, agregados e escravos). As primeiras
famílias povoadoras foram Crespo, Santos Abreu, Costa Santos, Porciúncula e
Oliveira Guimarães de Antiqueira, e algumas outras.
Fora dos limites das fazendas, nessa
época começaram a se formar os primeiros núcleos populacionais, com pessoas de
origem espanhola (vindos de São Paulo) estabelecendo-se em Campos Quevedos
(Serra dos Tapes). No Boqueirão peões, agregados e escravos alforriados se
instalaram, formando um povoado, pela primeira vez dividindo o latifúndio com
pequenas propriedades de exploração agrícola. Na Freguesia do Boqueirão
fixaram-se italianos, contando aquela região com mais de 500 habitantes no ano
de 1850, poucos anos depois chegando os primeiros alemães trazidos por Jacob
Rheingantz.
De 1809 a 1830 o território
lourenciano fez parte do município de Rio Grande, passando a pertencer ao
município de Pelotas até o ano de 1884 quando, então, foi emancipado. A
primeira capela, Nossa Senhora do Boqueirão, foi erigida em 1830.
Dois fatos históricos pertencem aos
registros do município, quando ainda pequeno povoado: a passagem por Boqueirão
da tropa vitoriosa de Manoel Lucas de Oliveira sobre as forças legalistas
comandadas por Francisco Pedro de Abreu (posteriormente Barão do Jacuí), e a
batalha travada nas imediações do Passo do Mendonça, quando as tropas de Bento
Gonçalves derrotaram os comandos do Duque de Caxias durante a Revolução
Farroupilha.
Após a sangrenta
“revolta dos batalhões estrangeiros”, em 1828 no Rio de Janeiro, continuavam os
imigrantes alemães a chegar em São Leopoldo/RS, e em Nova Friburgo-RJ, embora
transportados em condições de grande desconforto e penúria, sofrendo tôda a
sorte de privações e, chegados ao Brasil, verificando que a realidade era muito
diversa do que lhes haviam contado: falta de atenção e desinterêsse das
autoridades responsáveis, terras em condições quase selvagens, falta de
recursos e de facilidades para explorá-las.
Antes da fundação da Colônia de São
Lourenço, Jacob Rheingantz residira nas cidades de Rio Grande e de Pelotas, com
carreira ascendente no comércio local por longos anos, familiarizando-se com as
condições regionais de vida, com as realidades presentes e as perspectivas
futuras. Teve a idéia e vontade de fundar uma colônia com conterrâneos seus, e
as terras que lhe interessaram foram detidamente examinadas e consideradas
ideais para a pretendida colonização. Conhecendo as condições de vida na
Alemanha, e as aspirações dos elementos que pretendia atrair para povoar essa
região virgem, estudou atentamente a legislação brasileira, não só em relação à
colonização, prevendo as emergências que poderiam surgir, tudo calculando e
medindo. Ao lançar-se ao empreendimento, sabia exatamente quais os fatôres a
levar em consideração para o seu sucesso. Não era uma aventura.
Conforme relato de Moacir Böhlke
(2003, p.16), houveram tentativas anteriores para a colonização da área
escolhida por Rheingantz e Guimarães, tanto por iniciativa privada como
provincial. Com a fundação da Associação Auxiliadora da Colonização de
Estrangeiros, em Pelotas – 1850, houve apoio aos imigrantes irlandeses que
fundaram as colônias D.Pedro II e Monte Bonito, pouco depois por eles
abandonadas. Discursos de deputados provinciais, em 1847, comprovam a hipótese
do interesse Provincial.
Terminada a Guerra
dos Farrapos, que havia interrompido bruscamente a colonização no Rio Grande do
Sul, a forte imigração alemã para o estado se restabeleceu, favorecida pelas
perturbações irrompidas na Europa em 1848 e, apesar de tôdas as dificuldades
encontradas, os colonos aqui estabelecidos comentavam nas cartas que escreviam
para seu país de origem que a situação e condições aqui reinantes eram
animadoras. Mais de 16 mil alemães imigraram para o Rio Grande do Sul entre
1846 e 1850, e cêrca de 9 mil para Santa Catarina; em 1849 foi fundado o núcleo
de Santa Cruz, na província do Rio Grande do Sul. Em 1º de maio de 1858, o govêrno
brasileiro baixou um Decreto estabelecendo as condições mínimas a serem
preenchidas no transporte marítimo dos imigrantes destinados a nossos portos, a
cujos dispositivos ficavam sujeitos os comandantes dos navios que fizessem êsse
transporte, amenizando as condições desumanas da demorada travessia.
Ainda em 1848 Jacob casou-se com uma enteada de seu patrão, d.Maria Carolina
von Fella (nascida a bordo de uma fragata dinamarquesa ao entrar na barra do
Rio Grande em novembro de 1829), filha legítima e única dos irlandeses barão
Carlos Adams von Fella (morreu afogado) e d.Joanna Hillert Martin. Tiveram 10
filhos, o primeiro de nome Carlos Guilherme nascido em abril de 1849.
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